' É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê. ' ~*

sábado, 3 de janeiro de 2015


Não sei se é porque eu cresci (ai meu Deus, eu cresci). E quer saber? Amadurecer dói, dói demais. Porque a gente começa a reorganizar a vida com mais razão e menos emoção. Não que cobremos posições (eu não cobro) cada um está no devido lugar na vida do outro. E sobre isso eu me recordo do poema de Padre Fábio de Melo: "A Liturgia do Tempo".

"A velhice é este tempo em que passa a utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. Um momento em que a gente se purifica e tem a oportunidade de saber quem nos ama de verdade, pois só vai ficar do nosso lado até o fim aquele que, depois da nossa "utilidade", descobrir o nosso significado. Se queres saber se uma pessoa te ama de verdade, é só identificar se ela seria capaz de tolerar a sua inutilidade... Quer saber se você ama alguém de verdade? Pergunte a si mesmo: "Quem nesta vida pode ficar 'inútil' para mim, sem que eu sinta o desejo de jogá-lo fora?" É assim que descobriremos o significado do amor... Só o amor nos dá condição de cuidar do outro até fim. Feliz aquele que tem, ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir a fala que diz: "Você 'não serve para nada', mas eu não sei viver sem você!"
https://www.youtube.com/watch?v=NNBdJ7crU2M

Porque eu faço, sinto as coisas com a maior sinceridade. Às vezes eu sou tão boba, inocente, mas quer saber:

E não me arrependo por ser assim.
Por confiar, acreditar. Tropeço, eu sei. Tropeço muito. Mas eu prefiro acreditar na mudança a não crer em nada (não vou negar que de vez em quando eu fico com aquela vontadezinha de me achar burra, mas ela passa). E sobre isso eu também me lembro de uma de minhas autoras preferidas - Lispector, que diz:


É preciso viver apesar de.
"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”
Não é que eu esteja vivendo apesar de, é que eu sempre vivi apesar de. Parei para pensar sobre a minha vida e o rumo que ela tomou e lembrei que apesar de, estou vivendo. Apesar de, não desisti. Apesar de, não tentei. Apesar de, eu amo. Apesar de, eu odeio. Apesar de, não enxerguei. Apesar de, não chorei. Apesar de, não sorri. Apesar de, não consegui. Apesar de, eu ganhei. Apesar de, não me esqueci. Apesar de, fui embora. Apesar de, eu permaneci.
Vivemos sempre, sempre, sempre apesar de. E apesar dos pesares, sobrevivemos até aqui.
Não é com tristeza nem alegria que eu escrevo hoje. Na verdade, eu escrevo apesar de. E, apesar de, a despeito de, não obstante, eu escrevo, e sinto como sinto… e espero – e quero – que os pesares que a vida me impõe todos os dias, tornem-se sempre apesares, porque eu quero ter força e sabedoria para continuar apesar de.
Apesar dos pesares, apesar das dores, apesar de tudo eu estou feliz. Eu tenho escolhas. Sonhos. Eu quero mais, muito mais.